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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Let´s Make Money (2008) de Erwin Wagenhofer - Trecho com o ex -"assassino económico" John Perkins






Trecho do documentário austríaco - "Let´s Make Money" (2008) de Erwin Wagenhofer, com o ex -"assassino económico" John Perkins. O documentário completo já foi publicado neste blog, na página: http://euprocuroeuencontro.blogspot.pt/2012/09/lets-make-money.html

 
Não consegui resistir a fazer a transcrição do discurso de John Perkins...

"Sou o Jhon Perkins, sou um cidadão americano, nascido e criado nos Estados Unidos. Sou um antigo "assassino económico".

O nosso modo de operação era muito semelhante ao assassino da máfia, porque estamos à procura de um favor que virá mais tarde. Os mafiosos e os "gangsters" já fazem isto faz muito tempo. Nós apenas o fazemos a uma escala muito maior, com governos, com países, a uma enorme escala e somos muito mais profissionais. Nós fazemos isto de muitas formas diferentes, mas talvez a mais comum seja esta - o "assassino económico" identifica um país que tenha recursos que as nossas companhias desejem (como o petróleo), depois conseguimos um enorme empréstimo ao seu país, a partir do Banco Mundial ou a partir de uma das suas organizações. Mas o dinheiro nunca vai realmente para o país. Em vez disso, vai para as nossas corporações para construírem grandes projectos de infra-estruturas, naquele país. Coisas que beneficiam apenas uns poucos e muito ricos daquele país, bem como as nossas próprias corporações. Mas, não ajudam a maioria das pessoas, que são demasiado pobres. No entanto, a estas pessoas (aos pobres) é deixada uma enorme dívida e é tão grande que elas nunca a vão poder reembolsar. No processo de tentar reembolsar a dívida, cria-se uma situação onde não podem ter bons programas de saúde ou programas de educação. Então, nós, os "assassinos económicos" voltamos lá e dizemos:

- Escutem, vocês devem-nos muito dinheiro, não conseguem pagar as vossas dívidas, por isso, dêem-nos 1kg de carne, vendam-nos o vosso petróleo (muito barato) às nossas companhias petrolíferas ou votem connosco na próxima votação de uma situação crítica nas Nações Unidas ou enviem tropas para nos apoiarem nalguma parte do mundo, tal como no Iraque.

E foi desta forma que conseguimos criar este império, porque de facto, nós é que criamos as leis, nós controlamos o Banco Mundial, controlamos o FMI (Fundo Monetário Internacional) e de certa forma, até controlamos as Nações Unidas. E então, nós escrevemos as leis e assim as coisas que o "assassino económico" faz não são ilegais. Endividar enormemente os países e depois exigir um troca de favores, isso não é ilegal. Deveria ser, mas não é.

Uma das características de uma império é que força a sua moeda ao resto do mundo e foi isso que fizemos com o dólar. Então, em 1971, os EUA tinham uma enorme dívida (muito disto era resultado da Guerra do Vietname) e estávamos no padrão do ouro. Alguns dos países decidiram executar as suas dívidas e queriam receber o pagamento em ouro, porque não confiavam no dólar. O Presidente Nixon recusou-se a pagar em ouro, de facto, retirou-nos do padrão do ouro porque ele sabia que nós não conseguiríamos pagar em ouro, não tínhamos o valor (quantia). Muito pouco tempo depois, fomos para o padrão do petróleo e eu fiz grande parte daquele acordo que fizemos com a Arábia Saudita, insistindo que a OPEP (Países Exportadores de Petróleo) vendessem o petróleo apenas com o dólar. E então, de repente o dólar move-se do padrão do ouro para o padrão do petróleo, que devido a muitos aspectos, é um padrão muito mais importante, porque o petróleo é intrinsecamente mais valioso do que o ouro nesta era. De repente, o mundo só pode comprar petróleo com o dólar e o dólar é uma moeda muito, muito importante.

Actualmente os EUA, mais uma vez é um país falido. Temos dívidas enormes, maiores do que qualquer país alguma vez teve na história do mundo. E se algum desses países pedir o reembolso dessa dívida, noutra moeda que não seja o dólar, nós estaremos em grandes apuros. De momento, ainda só pedem o reembolso em dólares porque o petróleo é a grande comodidade e só se pode comprar o petróleo com dólares. Mas, o Saddam Hussein ameaçou vender o petróleo com outras moedas que não fossem o dólar, mesmo antes de ser "abatido".

Algumas vezes, quando nós, os "assassinos económicos" falhamos em corromper os lideres de outros países, tal como eu falhei com o Omar Torrijos, no Panamá e o Ramir Roldós, no Equador... não é frequente acontecer, mas quando acontece, então são enviados os "chacais". Os "chacais" são pessoas que derrubam governos ou assassinam os seus líderes. Por isso, quando eu falhei com o Ramir Roldós, no Equador ou com o Omar Torrijos, no Panamá, os "chacais" foram lá e assassinaram-nos. Nas poucas ocasiões em que nem os "assassinos económicos" nem os "chacais" são bem sucedidos, então aí e apenas aí, nós enviamos os militares. E foi exactamente isto que aconteceu no Iraque. O "assassino económico" não conseguiu corromper o Saddam Hussein, não conseguiu dar-lhe a volta, os "chacais" não conseguiram assassiná-lo, e por isso, enviaram os militares. Na primeira vez que enviamos os militares, em 1991, destruímos os seus militares e pensamos que ele tinha sido castigado e suficiente e agora ele iria alinhar connosco. E então, durante a década de 90 o "assassino económico" voltou lá e tentou de novo convencer o Saddam Hussein, mas ele não queria ceder. Se ele tivesse cedido, ele ainda estaria à frente do país e nós ainda estaríamos a vender-lhe armas de guerra. Mas, ele não cedeu, os "chacais" não o conseguiram assassinar, pois as suas forças de segurança eram muito boas e ele tinha muitos duplos. Nem os seu próprios seguranças sabiam se o estavam a guardar ou a um duplo. Então, pela segunda vez, nem o "assassino económico" nem o "chacais" foram bem sucedidos e naquele ponto, enviamos novamente os militares e desta vez, conseguimos apanhá-lo e o resto é história."


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