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domingo, 20 de outubro de 2013

“Se não estás satisfeito, a porta de saída é ali”.



Fica indignado quando descobre que acabou de ser ENGANADO por um OPERADOR DE CALL CENTER ou por um OPERADOR DE TELEMARKETING e sente uma ENORME vontade de ligar para a empresa de telecomunicações, para apresentar uma RECLAMAÇÃO sobre a actuação do funcionário?

Compreendo perfeitamente a sua INDIGNAÇÃO, mas antes disso, convido-o a descobrir primeiro o que é a realidade no "outro lado da linha":



“Se não estás satisfeito, a porta de saída é ali”.






Tra­bal­har num call cen­ter é viver num mundo de pobreza, insta­bil­i­dade, pressões e humilhações.

Para Nuno, o pior de tudo era ter de enga­nar os clientes. Tra­bal­hou no enorme call cen­ter da Por­tu­gal Tele­com em Coim­bra, antes de vir para a Teleper­for­mance, em Lis­boa. Em Coim­bra tra­bal­hou no sec­tor “out­bound” (quando é o oper­ador que faz a chamada, geral­mente para vender) da MEO. “Tín­hamos de dar a enten­der às pes­soas que, se não com­prassem o serviço MEO, ficariam sem tele­visão, o que era men­tira”, recorda Nuno, ao PÚBLICO. Era o período em que foi intro­duzida a Tele­visão Dig­i­tal Ter­restre (TDT). Quem não tinha qual­quer serviço por cabo, teria de insta­lar um descod­i­fi­cador para con­tin­uar a ter sinal de tele­visão. Não era necessário aderir ao MEO, mas os oper­adores só expli­cavam isto se o cliente o per­gun­tasse explici­ta­mente. As instruções que tin­ham eram claras quanto a isto.

Car­los ainda tra­balha no call cen­ter da PT de Coim­bra. Ou mel­hor, em teo­ria é empre­gado da Ver­tente Humana, uma empresa de tra­balho tem­porário, com a qual tem um con­trato de 15 dias, ren­ovável auto­mati­ca­mente, emb­ora com uma curiosa modal­i­dade de funcionamento.

Car­los, que vende igual­mente serviços da MEO, conta que tam­bém é obri­gado a enga­nar os clientes. Ao con­tac­tar clientes de out­ras redes, aliciando-os a aderirem ao serviço M4O, tem instruções para não referir nunca que o cliente terá de man­dar des­blo­quear o seu telemóvel, com os cus­tos implíc­i­tos. Só se tal for per­gun­tado explici­ta­mente — “E eu terei de man­dar des­blo­quear o meu telemóvel?” o oper­ador pode con­fir­mar. Mas se o cliente per­gun­tar, por exem­plo, “E não terei de fazer mais nada? O serviço fica logo disponível?”, o oper­ador está proibido de lhe dizer que terá de man­dar des­blo­quear o telemóvel.

Se o cliente, mais tarde, se sen­tir enganado e protes­tar, o oper­ador é penal­izado. Car­los relata outro caso, que acon­te­ceu no mês pas­sado. Na venda do serviço M4O (que inclui chamadas grátis de telemóvel), os oper­adores têm instruções para nunca dizer ao cliente que, ao aderir, terá anu­lado todo o saldo que possa ter no cartão sim. Mais uma vez, só poderá dar essa infor­mação se o cliente se lem­brar de o per­gun­tar explici­ta­mente. Ora no caso em questão o cliente chegou a dizer, na ten­ta­tiva de recusar a oferta: “Mas eu tenho muito din­heiro no cartão…” Não era a per­gunta certa, e Car­los não lhe pôde dizer que todo o seu saldo de 90 euros seria anu­lado. Quando desco­briu, o cliente protestou.

“Fui penal­izado por causa disso, na minha remu­ner­ação var­iável”, conta Car­los, “ape­sar de eu ter ao meu lado uma folha onde está escrita clara­mente essa regra, que eu não posso infor­mar o cliente”.

O call cen­ter da PT em Coim­bra vive essen­cial­mente da mão-de-obra dos estu­dantes da Uni­ver­si­dade. Na opinião dos oper­adores (que não con­fir­má­mos junto da PT) a ideia de colo­car o cen­tro de atendi­mento na cidade deve-se a esse motivo.

No período de férias uni­ver­sitárias, a PT emprega out­ras pes­soas, que não estu­dantes, que muitas vezes são des­pe­di­das mal se ini­cia o ano lec­tivo. Dito de uma fora mais téc­nica, a rota­tivi­dade dos tra­bal­hadores é enorme. Todos os que con­tac­tá­mos afir­maram estar con­trata­dos por agên­cias de tra­balho tem­porário, e terem con­tratos de 15 dias. Mas eis como fun­ciona: a meio de cada mês, o tra­bal­hador recebe em casa uma carta de des­ped­i­mento. Com alguns, isto acon­tece quase todos os meses, com out­ros, em ape­nas alguns meses por ano. Depende da pro­du­tivi­dade, e even­tual­mente de out­ros fac­tores. Car­los acaba de rece­ber uma, reg­is­tada, como sem­pre. Data: 18 de Julho de 2013. “Serve a pre­sente… nos ter­nos da Lei nº 1, artigo 344 do Código do Tra­balho, aprovado pela Lei nº 7/2009, de 12 de Fevereiro… o seu con­trato de tra­balho cad­u­cará a 3 de Agosto de 2013…” Seguem-se as instruções sobre sub­sí­dio de desem­prego, etc.

Chegado ao local de tra­balho, no dia seguinte, o super­vi­sor explica que a pro­du­tivi­dade não tem sido a mel­hor, e que, a con­tin­uar assim, o con­trato não será ren­o­vado, como a carta de resto já for­mal­iza. “Tens 15 dias para mel­ho­rar a per­for­mance”, diz o super­vi­sor. Será então pre­ciso tra­bal­har a dobrar, para “cumprir os objec­tivos”. Isso sig­nifica tra­bal­har durante os fins-de-semana e dias de férias, e a pos­si­bil­i­dade de fazer isso ainda é con­sid­er­ada um grande favor da empresa, para que o tra­bal­hador con­siga “cumprir os objec­tivos” e não seja despedido.

Esses objec­tivos são fix­a­dos pelas chefias, mas “muitas vezes a meio do mês mudam os objec­tivos”, diz Car­los. “A pressão é enorme, e a insta­bil­i­dade tam­bém. Há pes­soas a chorar nos inter­va­los, há pes­soas que não aguentam”.

Nuno, que tra­balha na Teleper­for­mance (emb­ora o seu con­trato seja com uma outra emprsa, de tra­balho tem­porário, que per­tence à própria Teleper­for­mance), tal como Maria, ou Júlia, que é oper­adora da ZON, todos se ref­erem à mesma insta­bil­i­dade, ao salário baixo (nunca muito acima do salário mín­imo) e às for­mas de pressão para fazer aumen­tar a pro­du­tivi­dade. A frase que todos dis­seram já ter ouvido repeti­das vezes, nas várias empre­sas, é “Se não estás sat­is­feito, a porta de saída é ali”.

Nuno e um grupo de pes­soas a tra­bal­har em várias empre­sas de call cen­ter estão a ten­tar organizar-se, para criar um sindi­cato do sec­tor. Reuniram-se e redi­gi­ram um Bole­tim para um Sindi­cato dos Tra­bal­hadores dos Call Cen­ters, nº 0, inti­t­u­lado ‘Tás logado?” Chamam a atenção para a pre­cariedade, para os baixos salários, as for­mas de pressão e a neces­si­dade de se juntarem. Mas mis­tu­ram tudo isto com um dis­curso muito ide­ológico (com refer­ên­cias à Pri­mav­era Árabe e às man­i­fes­tações no Brasil) o que decerto não facil­i­tará a adesão de pes­soas que, pela natureza do seu tra­balho e vín­cu­los con­trat­u­ais, ten­dem a estar dom­i­nadas pelo medo.

Os nomes de todos os oper­adores cita­dos nesta reportagem são fic­tí­cios, a pedido dos mes­mos. O nosso pedido à PT para vis­i­tar o call cen­ter de Coim­bra foi recu­sado, com a expli­cação de que seria “uma falta de respeito pelas pes­soas que estão a tra­bal­har”. Uma entre­vista com um respon­sável tam­bém foi negada. Ape­nas chegou uma resposta por email às nos­sas questões sobre os con­tratos e as car­tas de rescisão, dizendo que “não é ver­dade”. Quanto aos casos con­cre­tos em que os oper­adores são instruí­dos para enga­nar os clientes, a “fonte ofi­cial da PT” escreveu: “Os casos con­cre­tos que ref­ere não têm qual­quer sig­nifi­cado face às cen­te­nas de mil­har de serviços ven­di­dos no M4O”.


Publicado em 21 de Ago de 2013

Paulo Moura ("repórter à solta" - Público)




Agora sim, tenho a certeza que já sabe CONTRA QUEM é que quer reclamar e O QUE É QUE QUER reclamar, na qualidade de consumidor / cidadão...


Vamos DIVULGAR! Conhecer a verdade é um DIREITO e um DEVER de cada cidadão... :)

Os call centers vão salvar a economia portuguesa?





Com­petên­cias em lín­guas estrangeiras, boa infra-estrutura tec­nológ­ica, salários baixos, desem­pre­ga­dos em deses­pero. Os Gov­er­nos têm feito um bom tra­balho, é mel­hor do que a Índia ou o Norte de África, con­sid­eram as grandes multi­na­cionais dos call cen­ters. E estão a vir para cá. A crise é “uma opor­tu­nidade extra­ordinária”, dizem os rep­re­sen­tantes do sec­tor, e os call cen­ters podem sal­var a econo­mia portuguesa.


Parece uma imagem do futuro. O edifí­cio é em betão e vidro, design leve e tons claros, com vista para o Tejo e o Oceanário, que fica mesmo em frente. Nos aus­cul­ta­dores, Maria ouve o bip de uma chamada interna. “Posso saber porque está de pé?” É a voz de uma das “team lead­ers”, que tem mais ou menos a idade da sua filha. “Eu já não disse que não quero ninguém de pé?”

Maria, segundo o relato que fez ao PÚBLICO, estava no seu posto, no call cen­ter da Teleper­for­mance, há várias horas. Como o sis­tema infor­mático tinha caído, e era pre­ciso esperar uns min­u­tos para que recomeçasse, tinha-se lev­an­tado para esticar as pernas.

Não pode estar de pé. É do regulamento”.

Eu con­heço o reg­u­la­mento, mas pre­ciso de levantar-me por um min­uto”, responde Maria.

Cala a boca”.

Não podes tratar-me assim, sou um ser humano”.

Se não estás sat­is­feita, a porta da rua é ali”.

O edifí­cio está divido em salas, cada uma ded­i­cada a um “pro­jecto”, com cen­te­nas de oper­adores sen­ta­dos em mesas iguais, com um ter­mi­nal de com­puta­dor e aus­cul­ta­dores. No refeitório, todo branco e onde as refeições, sub­sidi­adas, cus­tam 2,5 euros, ouve-se falar várias lín­guas. Grande parte dos tra­bal­hadores que cir­cu­lam, dali para os seus locais de tra­balho, ou para a porta de saída, para fumar, fazendo pas­sar os seus cartões de acesso pelos torni­quetes, são estrangeiros. Quase todos muito jovens.

O ambi­ente não é de campo de con­cen­tração. Nem sequer de linha de mon­tagem indus­trial. Ninguém corre, ninguém lev­anta a voz. Há uma placidez cor­data, quase doce, pelo menos à super­fí­cie. Na entre­vista que con­cedeu ao PÚBLICO, o CEO da Teleper­for­mance, João Car­doso, ref­ere repeti­da­mente as várias dis­tinções que a empresa tem obtido como Mel­hor Lugar para Tra­bal­har, atribuí­dos pelo Great Place to Work Insti­tute, ou a revista Exame.

Há menos de dez anos, a multi­na­cional francesa Teleper­for­mance tinha em Por­tu­gal 200 tra­bal­hadores. Hoje tem cerca de 4 mil. Há dois anos, inau­gurou este cen­tro no Par­que das Nações, com um inves­ti­mento de 3,2 mil­hões de euros, para 1200 tra­bal­hadores, mas tem outro nas ime­di­ações e um ter­ceiro na Avenida Infante Santo. Aqui prestam-se serviços de call cen­ter, con­tact cen­ter ou out­sourc­ing para algu­mas das maiores empre­sas mundi­ais. Há, neste edifí­cios, 24 lín­guas de tra­balho, todas de falantes nativos, com con­hec­i­mento pro­fundo não só da lín­gua, garante o CEO, mas tam­bém da cul­tura do respec­tivo país.

O edifí­cio da Teleper­for­mance da Expo– Oceanário, com o seu ambi­ente uni­formizado e assép­tico, jovem e poliglota, dis­ci­plinado, efi­caz e dócil, garan­tido por regras austeras, pre­cariedade con­trat­ual, horários inten­sivos e salários baixos, pode de facto ser a imagem do futuro. Do futuro em Portugal.

Quando começá­mos, em 2005, todos pen­saram que isto era um inves­ti­mento ilógico”, recorda João Car­doso, com orgulho nas qual­i­dades de gestão que levaram a empresa a ser um indis­cutível “caso de sucesso”. Mas admite que as condições em Por­tu­gal, para este tipo de negó­cio, são favoráveis. O mérito da Teleper­for­mance foi tê-lo perce­bido mais cedo. O seu êxito, hoje, acaba por tornar o ambi­ente ainda mais propí­cio para o boom do sec­tor. É a prova de que é pos­sível e de que fun­ciona bem. Out­ras multi­na­cionais de call cen­ter e out­sourc­ing estão a olhar para Por­tu­gal como o lugar per­feito para insta­lar os seus serviços.

Quando se pensa em call cen­ters gigan­tescos, out­sourc­ing de serviços de infor­mática e helpdesk, pensa-se geral­mente na Índia, China, Egipto ou Fil­ip­inas. São países con­ve­nientes, porque apre­sen­tam “estru­turas de cus­tos” muito favoráveis, ou seja, há pes­soas que tra­bal­ham com razoável com­petên­cia por salários mis­eráveis. Mas a con­jun­tura está a mudar.

Por um lado, porque os salários ten­dem a aumen­tar nesses países do out­sourc­ing tradi­cional, à medida que, por serem tão solic­i­ta­dos, vão criando know-how e espe­cial­iza­ção. E ao mesmo tempo há países onde os salários estão a baixar. Por outro lado, há outro tipo de van­ta­gens que começam a ser impor­tantes para algu­mas empre­sas, como a com­petên­cia lin­guís­tica, a prox­im­i­dade geográ­fica e cul­tural, a infra-estrutura tec­nológ­ica e de comu­ni­cações, a esta­bil­i­dade política e social.

É neste con­texto que Por­tu­gal surge neste momento como um des­tino apetecível para as multi­na­cionais do out­sourc­ing. “Há um con­junto de indi­cadores muito favoráveis”, diz ao PÚBLICO Guil­herme Ramos Pereira, secretário-geral da Asso­ci­ação Por­tu­gal Out­sourc­ing, que inte­gra algu­mas das maiores empre­sas do sec­tor. “Segundo vários estu­dos, em nen­hum dos indi­cadores esta­mos em número 1, mas esta­mos muito bem posi­ciona­dos em vários indi­cadores impor­tantes em simultâneo”.

O seg­redo parece ser esse: um bom cock­tail for­mado por salários baixos, com­petên­cias lin­guís­ti­cas, boa estru­tura tec­nológ­ica, boa local­iza­ção geográ­fica. “O Gov­erno Sócrates fez um grande inves­ti­mento em tec­nolo­gias de infor­mação e redes comu­ni­ca­cionais. A nossa rede de fibra, por exem­plo, prati­ca­mente não tem con­cor­rentes no mundo inteiro. O Gov­erno Sócrates deixou um bom legado nesse capí­tulo”, explica Ramos Pereira.

A situ­ação parece poder resumir-se assim: um país pobre com uma boa rede de fibra. E talvez esta seja a fór­mula sufi­ciente para atrair os grandes call cen­ters mundi­ais. No tra­balho exaus­tivo de lob­by­ing inter­na­cional que a Asso­ci­ação Por­tu­gal Out­sourc­ing está a fazer, em coop­er­ação com o AICEP, é mais ou menos esta a ideia que se passa. Com alguns bónus. Uma “força de tra­balho tal­en­tosa” é outra car­ac­terís­tica apon­tada nos fol­hetes que imprim­i­ram. “Aces­si­bil­i­dade mundial” é outra. “Estilo de vida” tam­bém é con­sid­er­ado impor­tante, com refer­ên­cia explícita às pra­ias, aos 250 dias de sol por ano e à culinária. É obvi­a­mente val­orizada a “infra-estrutura de tele­co­mu­ni­cações e de tec­nolo­gias de infor­mação” e, last but not least, o “com­pet­i­tivo custo do tra­balho” e ainda a segu­rança e esta­bil­i­dade do país.

Há, da parte de muitas grandes empre­sas, uma tendên­cia para o re-shoring, explica o secretário geral da Asso­ci­ação. Sig­nifica isto apos­tar no near-shoring, em detri­mento do off-shoring. Começaram a ser evi­dentes os prob­le­mas de ter um serviço de out­sourc­ing na Índia, por exem­plo, no caso de uma empresa baseada na Europa. “Se surge uma questão qual­quer, um gestor não apanha rap­i­da­mente um avião para a Índia, para ir discuti-la com um coor­de­nador local”.

Além disso, há a questão cul­tural. Um europeu tem uma lin­guagem e forma de pen­sar mais fáceis e efi­cazes para out­ros europeus. A questão lin­guís­tica foi um fac­tor van­ta­joso, por exem­plo, para a Índia, onde o Inglês é lín­gua ofi­cial. Mas hoje é cada vez mais fácil encon­trar, em qual­quer país, quem fale Inglês.

Em Por­tu­gal, por outro lado, há muitos cidadãos flu­entes em francês e alemão, dev­ido aos laços cri­a­dos pela emi­gração desde os anos 60 e 70. Para além disso, é fácil atrair falantes de todas as lín­guas. “Se Por­tu­gal é um país atrac­tivo para fazer férias, tam­bém, pelos mes­mos motivos, é fácil con­vencer estrangeiros a virem para cá tra­bal­har”, diz João Car­doso, da Teleper­for­mance. Há na empresa, explica ele, uma hier­ar­quia salar­ial con­soante a procura de cada lín­gua e o nível de vida no respec­tivo país. O salário de um oper­ador fin­landês, por exem­plo, pode chegar aos 1400 euros, mais do dobro do que gan­ham os oper­adores por­tugue­ses. Mas isso não seria sufi­ciente. O que con­vence um fin­landês a vir tra­bal­har para um call cen­ter em Por­tu­gal é o clima e o estilo de vida, a opor­tu­nidade de vir con­hecer pes­soas e ter uma exper­iên­cia, enquanto ainda lhe pagam alguma coisa por isso. São estes ele­men­tos, segundo o CEO, que a Teleper­for­mance coloca nos anún­cios de emprego pub­li­ca­dos na Fin­lân­dia. Ou seja, são dirigi­dos a jovens com von­tade de fazer umas férias remu­ner­adas, não a famílias ou profis­sion­ais inter­es­sa­dos em prosseguir uma carreira.

Tam­bém é esse tipo de mão-de-obra que é suposto os call-centers empre­garem entre os por­tugue­ses. Mas dev­ido à actual difi­cul­dade em encon­trar empre­gos, os call-centers surgem como a única opor­tu­nidade de tra­balho para pes­soas mais vel­has, com famílias e casas para pagar. Isso con­tribui para tornar a mão-de-obra mais com­pe­tente, ainda que igual­mente barata.

Joana tem 44 anos e tra­balha há dez em call cen­ters. É licen­ci­ada em Psi­colo­gia, mas só con­segue tra­balho nesta área. Como não tem alter­na­ti­vas, decidiu levar a sério o seu emprego. Pas­sou por vários call cen­ters, até chegar a este, de uma empresa japonesa, onde, diz, é final­mente tratada como um ser humano, ape­sar de igual­mente mal paga. “Pela primeira vez, alguém me disse um ‘obri­gado’ pelo meu esforço”, conta ela. “Foram dez anos de humil­hações, insul­tos, des­on­esti­dade, roubo”. Na Teleper­for­mance, por exem­plo, nunca lhe dis­seram “bom dia Joana”, como acon­tece agora. “Nunca ninguém me tinha tratado pelo nome”.

Mas Joana ten­tou sem­pre ver o lado pos­i­tivo do tra­balho: “Fui aprovei­tando a for­mação que as empre­sas são obri­gadas a dar”. Como os oper­adores têm de apren­der as especi­fi­ci­dades das empre­sas e sec­tores para as quais têm de prestar serviços de infor­mações (inbound) ou de ven­das (out­bound), os call-centers dão for­mação intensiva.

Eu talvez con­seguisse tra­balho na minha espe­cial­i­dade, de Psi­colo­gia Clínica, mas seria tam­bém mal paga. Por isso, para gan­har pouco, pre­firo estar numa área onde não invisto nada. Não pre­ciso de me pre­ocu­par, nem de estu­dar. Eles dão for­mação. São eles que investem em mim, não sou eu que invisto neles”.

A empresa onde Joana tra­balha presta serviços de helpdesk de infor­mática. Tem mais de mil oper­adores nas suas insta­lações numa das tor­res do Colombo, em Lis­boa. Joana lida ape­nas com uma empresa, uma multi­na­cional petrolífera francesa. “Tenho de dar infor­mações tanto a um engen­heiro que está no deserto a fazer prospecção de petróleo, como a um exec­u­tivo num escritório em Paris. E tenho de dar resposta a abso­lu­ta­mente tudo o que enten­dam per­gun­tar. É pre­ciso ter essa capaci­dade. Para isso é útil a exper­iên­cia que tenho, e o facto de ser por­tuguesa, com a nossa capaci­dade para desen­ras­car e resolver problemas”.

Na opinião de Joana, essa é outra das car­ac­terís­ti­cas que as multi­na­cionais procu­ram em Por­tu­gal. “Os indi­anos só fazem o que lhes man­dam. Quando é pre­ciso decidir ou tomar decisões, pas­sam a um superior”.

Guil­herme Ramos Pereira con­corda que este binómio — baixos salários e qual­i­dade dos serviços — é a grande van­tagem com­pet­i­tiva de Por­tu­gal para se tornar num dos grandes cen­tros mundi­ais de out­sourc­ing e contact-centers. “É uma situ­ação que já existe há muito, não é de agora”, diz ele. Mas admite que a crise por­tuguesa tornou, pelo menos, a sedução mais visível. “A crise não é a razão, porque as condições já exis­tiam, mas vai per­mi­tir ala­van­car este esforço. Com a crise, há de facto uma opor­tu­nidade excepcional”.

Outro fac­tor não desprezível é a esta­bil­i­dade. Várias empre­sas que tin­ham o seu out­sourc­ing em países do Norte de África tiveram de fugir à pressa em con­se­quên­cia da Pri­mav­era Árabe. A Black­berry e a Voda­fone são exem­p­los dados por Ramos Pereira. Tin­ham todos os seus serviços con­cen­tra­dos no Cairo. Quando o Pres­i­dente Mubarak decidiu cor­tar o serviço de inter­net e telemóvel na cidade, não con­seguiu des­or­ga­ni­zar os man­i­fes­tantes da Praça Tahrir, mas logrou lançar o pânico na Black­berry em todo o mundo. “Não tin­ham alter­na­ti­vas, de repente ficaram paralisados”.

Por­tu­gal está por­tanto num momento ideal para a entrada das multi­na­cionais do call-center. Os últi­mos gov­er­nos dotaram o país de uma boa infra-estrutura tec­nológ­ica, baixaram os salários e aumen­taram o desem­prego até ao ponto de terem grande parte da pop­u­lação deses­per­ada, mas ainda não ao extremo de haver protestos vio­len­tos. Um bom tra­balho, na per­spec­tiva das multi­na­cionais. Para elas é per­feito: um país desen­volvido e mis­erável ao mesmo tempo.

Muitas já se insta­laram. A Fujitsu, a Xerox, a Microsoft, a Philips, o BNP Paribas, a Apple, tal como as espe­cial­izadas em out­sourc­ing Teleper­mor­mance, SITEL ou Rand­stad têm enormes cen­trais de atendi­mento em Por­tu­gal. A Asso­ci­ação Por­tuguesa de Con­tac Cen­ters cal­cula que  mais de 50 mil pes­soas tra­bal­ham no sec­tor. Mas a pre­visão é de que de ven­ham muitas mais empre­sas nos tem­pos próximos.

Este é o sec­tor de maior cresci­mento em Por­tu­gal”, diz João Car­doso, acres­cen­tando que as condições são “excep­cionais”. Guil­herme Ramos Pereira é ainda mais opti­mista, acha que a activi­dade pode vir a desem­pen­har um papel fun­da­men­tal na econo­mia por­tuguesa. “Muitas empre­sas france­sas estão a vir para cá, dev­ido à grande crise em França. E nós esta­mos a fazer um tra­balho junto de todos os grandes advis­ers inter­na­cionais, para se se crie um efeito de bola de neve”.

Mas o exec­u­tivo da Por­tu­gal Out­sourc­ing adverte con­tra o termo call cen­ter e a imagem neg­a­tiva que lhe está asso­ci­ada. “Não se trata ape­nas de call cen­ters, onde estão pes­soas sim­ples­mente a aten­der tele­fones, mas de out­sourc­ing, num sen­tido mais amplo. São esses serviços mais espe­cial­iza­dos que virão para Por­tu­gal, não o call cen­ter puro e duro”.

O líder da Teleper­for­mance defende a mesma ideia. “As condições que temos podem ser boas, mas não bas­tam”. Para ser­mos com­pet­i­tivos, o serviço tem de ser muito bom, explica João Car­doso. E pre­cisa que qual­quer outra empresa, em qual­quer país, nos pode roubar o lugar e as van­ta­gens, em pouco tempo. “Nós temos 12 meses de avanço”, diz, referindo-se à Teleper­for­mance. Esse é o lapso de tempo de que qual­quer empresa pre­cisa para se colo­car à altura. O CEO da Tele­por­mor­mance não admite que dizer isto é o mesmo que afir­mar que o negó­cio dos call cen­ters tanto pode crescer expo­nen­cial­mente, como desa­pare­cer num ápice, com as empre­sas a deslocarem-se para zonas do globo entre­tanto mais favoráveis, e dei­tando a perder todo o bene­fí­cio para a econo­mia e a cri­ação de emprego.

O seu argu­mento é que a indús­tria dos call cen­ters é tão ou tão pouco segura como qual­quer outra, incluindo a indus­tria automóvel alemã ou relo­joeira suíça, que podem ser destron­adas a qual­quer momento. É tudo uma questão de boa gestão e de saber aproveitar as oportunidades.

Por­tu­gal não pode perder esta, que lhe está a ser ofer­e­cida pela crise, mas deve inve­stir nos call cen­ters como um sec­tor estratégico e de qual­i­dade. Se os serviços presta­dos não forem bons, os clientes fugirão para a Poló­nia, Hun­gria ou Romé­nia, que tam­bém ofer­e­cem boas condições. Ou Mar­ro­cos, que sai mais barato.

Para que o sec­tor possa desenvolver-se é pre­ciso com­preen­são e apoio da parte do Estado. Dev­e­ria haver, na Uni­ver­si­dade, uma licen­ciatura em Oper­ador de Call Cen­ter, defenfe o CEO da Teleper­for­mance, para que as empre­sas não ten­ham de ser elas a inve­stir em for­mação. Uma licen­ciatura do género, lem­bra João Car­doso, foi incluída na oferta cur­ric­u­lar uni­ver­sitária das Fil­ip­inas, país cujo prin­ci­pal pro­duto de expor­tação já são os serviços de call center.

Por outro lado, é necessário que o Gov­erno man­tenha a necessária flex­i­bil­i­dade nas leis lab­o­rais. Este é um dos sec­tores onde isso é mais impor­tante, admite. “A Espanha ten­tou reg­u­lar o sec­tor, e as empre­sas fugi­ram todas para a América Latina”.


Publicado em 21 de Ago de 2013

Paulo Moura ("repórter à solta" - Público)





Quando o povo EXERCE O SEU DIREITO DE VOTO, elege alguém que supostamente vai tomar decisões "A FAVOR" dos interesses do povo, para o qual "TRABALHA"... Será??? Reparemos neste parágrafo... 



"Por­tu­gal está por­tanto num momento ideal para a entrada das multi­na­cionais do call-center. Os últi­mos gov­er­nos dotaram o país de uma boa infra-estrutura tec­nológ­ica, baixaram os salários e aumen­taram o desem­prego até ao ponto de terem grande parte da pop­u­lação deses­per­ada, mas ainda não ao extremo de haver protestos vio­len­tos. Um bom tra­balho, na per­spec­tiva das multi­na­cionais. Para elas é per­feito: um país desen­volvido e mis­erável ao mesmo tempo."


Penso que agora ficou BEM CLARO, para quem é que na realidade os nossos governantes TRABALHAM e porque é que a crise em Portugal "teima" em não ter fim...


E como "não há uma sem duas"...


"Para que o sec­tor possa desenvolver-se é pre­ciso com­preen­são e apoio da parte do Estado. Dev­e­ria haver, na Uni­ver­si­dade, uma licen­ciatura em Oper­ador de Call Cen­ter, defenfe o CEO da Teleper­for­mance..."

"LINDA" ideia, não? O que é que poderemos dizer sobre isto? Talvez... COMPLETO ABSURDO??? 


RECOMENDO VIVAMENTE a leitura deste EXCELENTE artigo a TODOS os portugueses, sem excepção! 

Vamos DIVULGAR! Conhecer a verdade é um DIREITO e um DEVER de cada cidadão... :)

terça-feira, 12 de março de 2013

Conferência Nacional em Defesa de um Portugal Soberano e Desenvolvido, 23 de Fevereiro de 2013, Auditório da Faculdade de Ciências de Lisboa - Intervenção de Joana Manuel (actriz)








Excerto da intervenção de Joana Manuel (actriz) na Conferência Nacional...


"Trabalhei quase uma década num teatro nacional, num teatro do Estado, que agora é uma EPE. A recibos verdes. Com os descontos para a Segurança Social totalmente a meu cargo. Com contratos sucessivos de prestação de serviços. Sem qualquer tipo de subsídio. E, mesmo assim, para o meu meio, para a minha classe profissional, fui uma privilegiada. Tive trabalho relativamente bem remunerado durante um longo período de tempo, apesar dos horários desregulados e da falta de direitos. Dei o couro e o cabelo, como antes de mim dera o meu pai, e quando saí, como aconteceu com o meu pai quando decidiu que não queria mais patrões, saí sem nada. Bom, saí com boas memórias e um currículo que hoje não me serve para muito, com as artes estranguladas e chutadas para canto. Mas mais nada. Pago 20 euros por uma urgência hospitalar e não tenho perspectivas de vir a ter uma reforma digna. Quero ser mãe e não vejo muito bem como vou conseguir fazê-lo. Quero trabalhar e não me deixam. E mesmo assim vou cumprindo umas tarefas que me pagam as contas. E mesmo assim, no hoje que vivemos, sinto-me uma privilegiada. Uma jovem privilegiada. E se eu sou jovem, pergunto: o que sabemos quando sabemos que um em cada dois jovens que não emigraram estão neste momento desempregados? Jovens de que idades?"

Fonte: https://sites.google.com/site/emdefesadeumportugalsoberano/4-conferencia-nacional




Em defesa de um Portugal soberano e desenvolvido

Site Oficial: https://sites.google.com/site/emdefesadeumportugalsoberano/
Facebook: http://www.facebook.com/pages/Em-defesa-de-um-Portugal-soberano-e-desenvolvido/295243417207944


É assim que se fala! Como diz o povo... "Sem papas na língua!" Um discurso que merece toda a nossa ATENÇÃO e DIVULGAÇÃO! :)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Petição Pelo Aumento do Salário Mínimo Nacional - Uma questão de justiça e de direitos humanos


Para: Assembleia da República; Parceiros Sociais; Governo


Pelo aumento do Salário Mínimo Nacional
Uma questão de justiça e de direitos humanos
 



"Tem estado em discussão, pelos parceiros sociais, no parlamento e no executivo, a possibilidade de aumentar o salário mínimo. Pensamos que este debate é importante e reclama de todos e todas um sentido de urgência e de responsabilidade. Trata-se de uma escolha que é simultaneamente sobre economia, sobre justiça, sobre direitos humanos e sobre democracia.

Portugal tem o salário mínimo mais baixo da zona euro. Com o aumento do custo de vida, a manutenção deste valor demasiado baixo gerou um crescimento exponencial do número de trabalhadores pobres em Portugal. Um em cada dez trabalhadores vive abaixo do limiar da pobreza. Em 2010, o limiar da pobreza foi definido nos 434 euros. Hoje, depois dos descontos, os trabalhadores que auferem o salário mínimo recebem 431,65 euros líquidos, ou seja, ficam abaixo daquele limiar. Uma situação em que o exercício de uma profissão e o acesso ao emprego não permite escapar à pobreza não é admissível na Europa do século XXI. A pobreza ofende e viola a dignidade da pessoa humana e impede o exercício da liberdade. Num tempo em que se acentuam as desigualdades, o salário mínimo é um garante basilar de coesão social e de proteção dos trabalhadores, devendo contrariar estratégias de vulnerabilização salarial e de exploração da força do trabalho, já facilitadas pelas lógicas da precariedade e do trabalho a tempo parcial. Num contexto em que a pobreza se acentua e alastra, combate-la é, antes de mais, reafirmar um compromisso de solidariedade. O aumento do salário mínimo é por isso, em primeiro lugar, uma questão de direitos humanos.

É, ainda, uma medida economicamente sensata. Um pequeno aumento no ganho de um trabalhador com menores rendimentos tem impacto direto na economia, visto que esse aumento de rendimento é utilizado em bens e serviços que criam emprego. Aumentar o salário mínimo é uma necessidade para a dinamização do mercado interno devastado pela crise e para a recuperação económica do país.

Por último, o aumento do salário mínimo é uma questão de justiça. Em 2006, o Governo e as confederações sindicais e patronais acordaram em concertação social que, em 2011, o salário mínimo chegaria aos 500 euros. Todavia, aos primeiros sinais da crise, esse acordo foi violado e o salário mínimo ficou congelado nos 485 euros. Este incumprimento tem sido mantido, num contexto em que o seu valor está longe do que é preconizado na Carta Social Europeia, subscrita pelo Estado português, que estabelece que o salário mínimo líquido deve ser 60% do salário médio. Se essa fosse a referência a cumprir, o salário mínimo ultrapassaria já os 600 euros.

Aumentar o salário mínimo é uma questão de respeito. Como se dizia em texto do Concílio Vaticano II, é preciso satisfazer "antes de mais as exigências da justiça, nem se ofereça como dom da caridade aquilo que já é devido a título de justiça; suprimam-se as causas dos males, e não apenas os seus efeitos”. O aumento do salário mínimo é isso mesmo: uma questão elementar de justiça. É uma exigência do combate à pobreza, para salvaguardar as pessoas que se veem privadas de exercer a sua plena cidadania e dignidade." 



PRIMEIROS SIGNATÁRIOS

Alfredo Bruto da Costa (presidente Comissão Nacional Justiça e Paz), Eduardo Vítor Rodrigues (sociólogo), Eugénio Fonseca (presidente Cáritas Portuguesa), Fernanda Rodrigues (assistente social), José António Pinto (assistente social), José Manuel Pureza (professor universitário), José Reis (economista, diretor FEUC), José Soeiro (sociólogo), Manuel Carvalho da Silva (sociólogo, coordenador CES Lisboa), Manuela Silva (economista), Paulo Pedroso (professor universitário), Pe. Jardim Moreira (presidente Rede Europeia Anti-pobreza), Sandra Araújo (diretora Rede Europeia Anti-pobreza), Sérgio Aires (sociólogo).

Os signatários

Fonte / ASSINAR PETIÇÃO: http://peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=SMN


Até ao presente momento 6076 pessoas já subscreveram! 

FALTA A SUA ASSINATURA! :) DIVULGUE! :)

domingo, 1 de julho de 2012

Mais de meio milhão recebe salário mínimo






"Número de pessoas a ganhar ordenado mínimo duplicou. Saiba quantos são.

O número de trabalhadores em Portugal que recebe o salário mínimo nacional duplicou em quatro anos. Actualmente há mais de meio milhão - 605 mil pessoas - que ganham a retribuição mínima legal, número que tem crescido a par da crise que se abate sobre o País.
...

Entre 2007 e 2011, a quantidade de trabalhadores - por conta própria ou outrem - a ganhar o salário mínimo subiu praticamente 115%, aumentando a uma média de mais de 80 mil pessoas por ano.

Quando toca a definir salários, as mulheres são as mais prejudicadas pelas fracas condições de retribuição salarial: 14,9% das trabalhadores do sexo feminino recebem 485 euros mensais, contra os 8,1% dos homens.

Num estudo recente, o economista Eugénio Rosa concluiu que o salário médio dos trabalhadores por conta de outrem, em 2010, não ultrapassava os 777 euros líquidos. Segundo o economista, existiam nesse ano mais de 2,5 milhões de pessoas a ganhar menos de 900 euros líquidos. 

Para Eugénio Rosa, "as empresas estão a aproveitar-se da crise" para oferecer aos trabalhadores condições remuneratórias mais penalizadoras. Por um lado, especifica, "pagam ordenados mais baixos aos recém-contratados, ainda que com elevada formação", e, por outro lado, "cortam os benefícios e congelam os salários" de quem já está no activo.  


24 MIL FOGEM DE PORTUGAL EM 2011

Portugal perdeu 30 mil habitantes em 2011, segundo o Instituto Nacional de Estatística, que estimava a população residente em Portugal em 10 milhões 541 mil pessoas, menos 30 mil do que no final de 2010, a maior queda das últimas décadas. A emigração foi a principal responsável, com um saldo migratório negativo de 24 mil pessoas, sobretudo jovens, o que contribuiu para aumentar o índice de envelhecimento do País, que viu sair, por dia, cerca de 67 pessoas a mais do que as que entraram."

Diana Ramos com S.P./S.R. (Correio da Manhã)

Publicado em 12 de Jun de 2012


segunda-feira, 18 de junho de 2012

O trabalho "deixou de proteger as pessoas" da pobreza





"O trabalho deixou de constituir uma protecção contra a pobreza, tendo-se transformado num mecanismo de aprofundamento das desigualdades sociais"

"Numa altura de precariedade generalizada, estes indicadores denotam que o trabalho está a deixar de ser veículo de emancipação e, mais do que isso, "a necessidade de as sociedades se reorganizarem para deixarem de ter no trabalho a primordial fonte de rendimento dos cidadãos", defende Agostinho Rodrigues Silvestre, na comunicação que vai apresentar durante o VII Congresso Português de Sociologia, de quarta a sexta-feira próximas no Porto"
... 

"Considera que, independentemente do que vier a seguir, o que o Estado não pode, numa altura em que a precariedade laboral se generalizou, é continuar a atirar o ónus do desemprego para as costas dos cidadãos: "O Estado põe no indivíduo a responsabilidade de procurar emprego, o que, numa altura em que o trabalho entrou em desordem mas continua a habitar a ordem social, pode significar forçar os cidadãos a procurar uma coisa que não existe".

Publicado em 16 de Jun de 2012, por Natália Faria (Público)


Já faz alguns anos que alguns especialistas em prospectiva (baseando-se nos seus estudos) têm vindo a afirmar que no futuro não existirá trabalho disponível para uma GRANDE parte da população (o sistema não precisará mais desta para o mundo do trabalho) e que assim sendo, estas pessoas viverão de uma espécie de subsídio... Certeiros?

Divulguem!

domingo, 13 de maio de 2012

Paula Hernandez sobre los Call Center (Córdoba-Argentina)





"Cerca de 20 mil de jóvenes trabajan en la ciudad de Córdoba en el negocio de los Call Center.
En general se trata de trabajadores con un promedio de edad de entre 20 y 30 años, si bien en un primer momento se planteó como un trabajo para estudiantes que buscan un ingreso para complementar los otorgados por los padres, esa situación se fue modificando y hoy hay familias enteras que viven de la industria del Call Center. La concepción de ahorro extremo en vista a optimizar las ganancias por parte de las compañías y el apañamiento cómplice del Estado, genera una profunda precarización laboral."

PELIGRO: Call Center (Buenos Aires-Argentina)





"Nota periodística realizada por Canal 7, Buenos Aires, Argentina"

Medida contra call centers por problemas de salud (Córdoba-Argentina)





"Resultado de la experiencia vivida mientras trabajaba en un call center, una joven presentó un recurso de amparo colectivo para que la justicia estudie, supervise y regule las condiciones laborales insalubres que viven todos los días los trabajadores del lugar.
El Show de la Mañana"

Operador Telemarketing – O Lado Negro






"...Agora desafio-vos a colocarem-se na posição do operador de telemarketing! Pela minha experiência, dado que trabalho nisto há um ano, posso afirmar que em mais de metade das chamadas que efectuamos, uma das seguintes situações ocorre:

    Somos alvo de chacota, quando tentam “despachar-nos” usando as mais variadas estratégias, como acima mencionei. Mentir não faz com que deixem de ser contactados, até porque, a maioria das vezes, nos apercebemos de que o fazem, pela forma ridícula como mentem.

    Somos insultados, quando estão saturados de chamadas de telemarketing, ou manifestam o seu desagrado relativamente à empresa em questão. É compreensível reclamar quando há motivo para a insatisfação, porém também é preciso saber fazê-lo e ter consciência de que nós estamos a fazer o nosso trabalho enquanto vendedores.

    Desta forma, é importante dizer que provavelmente o operador de telemarketing odeia tanto o seu trabalho como quem é incomodado com a chamada.
O Operador de Telemarketing na Central

Por outro lado, assisto frequentemente à desvalorização do telemarketing enquanto emprego. Apesar de não necessitar de esforço a nível físico, exige bastante a nível psicológico. Imaginem-se numa sala durante 4 horas (no mínimo) rodeados de vozes que constantemente gritam pedindo vendas, exigindo o cumprimento de um objectivo por hora (por ex.: 5 vendas/hora). Agora somem o facto de ocasionalmente, dependendo do número de vendas efectuadas nas primeiras duas horas de trabalho, a responsável da equipa de telemarketing impedir-nos de fazer uma pausa de 15 minutos (à qual temos direito, para comer, etc).

    Pergunto-me: “Regressei à escola primária, onde me punham de castigo quando me portava mal?”.

Durante o tempo em que realizamos chamadas, ouvimos dezenas de vozes, sobretudo de pessoas extremamente antipáticas, pois raros são os clientes que nos deliciam com simpatia e amabilidade. E mesmo esforçando-nos minuto a minuto para vender, rebatendo objecções, argumentando numa “luta” permanente com o cliente, se ouve uma chefe de equipa dizer:

    “Livrem-se de não cumprir o objectivo… Estou a avisar!” ou em tom sarcástico “O que é que vos falta para vender? Já não é da lista que estão a contactar, pois é nova e de clientes acessíveis, o sistema está a funcionar bem, portanto o problema agora é dos comunicadores!”.

Absolutamente nada neste discurso me motiva, me dá ânimo, me dá vontade e me faz acreditar que consigo e que vou vender! Acreditem, é preciso ser-se dotado de bastante calma e paciência e de uma incrivel resistência psicológica ao stress e pressão, para trabalhar nesta área. Somos constantemente testados a esses níveis, principalmente quando precisamos de trabalhar (tendo em conta os tempos difíceis que atravessamos), quando somos estudantes universitários, sendo a vida académica exigente para aqueles que pretendem efectivamente a lincenciatura, e quando vivemos diariamente com a pressão de vender. Se não aguentar-mos, corremos o risco de pertencer à estatística de desempregados em Portugal. :("

Tomé M.

Publicado em 12  Mai 2011

quinta-feira, 3 de maio de 2012

BOM DIA, EM QUE POSSO SER ÚTIL?






A atividade dos “call center”... considerado para alguns como a “escravatura” do séc.XXI

"A Ana ainda não perdeu a esperança de ser arqueóloga; a Maria do Carmo trabalhou uma vida nos lanifícios para acabar desempregada aos 44 anos; o Jaime já decidiu que vai ser dançarino e emigrar; o João adora o que faz e não pensa em mudar. Os quatro têm idades, percursos e projetos de vida diferentes, mas algo em comum: são todos operadores de “call center”.
A Ana, a Maria do Carmo, o Jaime e o João são alguns dos protagonistas de um documentário que nos leva ao mundo dos call centers portugueses, um mundo onde já trabalham cerca de 50 mil pessoas mas que é quase desconhecido de quem está “do lado de cá da linha”.
O “call center” é o equivalente tecnológico e “limpo” da “linha de montagem” fabril. Um assistente de call center pode passar 8 horas por dia fechado num cubículo a olhar para um computador, sem nenhum outro contacto com o mundo “cá de fora” senão um microfone e um par de auscultadores. Oito horas a dar informações, a resolver problemas – ou não! – a vender produtos, a fazer inquéritos; a ouvir desabafos, confidências e palavrões; a aturar de tudo: gente simpática, educada, malcriada, irritada e impaciente… Oito horas com um sorriso na voz!“Bom dia, em que posso ser útil” é um documentário da jornalista Margarida Metello, com imagem de Albano Espírito Santo, som de Carlos Vicente, edição vídeo de Mário Simões, pós-produção áudio de Carlos Nunes e produção de Ana Lucas."

Géneros: Documentários
Data: 05 Abr 2012
Duração: 51 minutos


Podem ver este documentário nesta página: http://www.rtp.pt/programa/tv/p28089/c78871

O outro lado da linha






"Em Portugal há 50 mil pessoas a trabalhar em Contact Centers, uma área de negócio que continua em expansão, 30 anos depois de um tímido início.
Para muitos licenciados, trabalhar como operador de Call Center é actualmente uma das poucas saídas profissionais; para quem tem mais de 40 anos e está desempregado também.
Como é trabalhar do outro lado da linha? Que ideias feitas e preconceitos giram em torno desta actividade? A Grande Reportagem SIC deste domingo foi à procura de respostas e encontrou uma realidade que não se pinta a preto e branco.

Hoje, grandes empresas das mais diversas áreas: distribuidores de energia, operadores de telecomunicações, companhias de seguros, bancos, mas também linhas de apoio, como a Saúde 24, ou entidades como a Deco - associação de defesa dos consumidores - fazem atendimento, venda ou assistência técnica através de Contact Centers que estão fora do espaço físico da empresa, em qualquer parte do país ou do mundo.

O Outro Lado da Linha é a Grande Reportagem SIC deste domingo. Um trabalho de Sofia Arêde, com imagem de Mário Cabrita e edição de imagem de Vanda Paixão."


29 de Abril de 2012

Fonte: http://sicnoticias.sapo.pt/programas/reportagemsic/2012/04/26/o-outro-lado-da-linha 


Podem ver a Grande Reportagem "O Outro Lado da Linha" nesta página do facebook (começa após os primeiros 10 minutos do vídeo):