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domingo, 5 de maio de 2013

Nos Passos do Coelho Alado


Crónicas do Sabiah-Laranjeira

Parte 1
 
"Quando pensei que nada de anormal eu veria mais neste mundo dos pássaros, eis que surge uma aberração da natureza, um coelho com asas para governar a República do Passaral. Antes estava no comando da nação uma ave de rapina, o Tartaranhão Caçador.
O tal Coelho subiu para a árvore dos discursos com umas falsas asas e enganou todo o Passaral com cantos arrebatadores, como se de Cotovia-Montesina se tratasse. Foram-lhe dadas asas por apenas um terço das aves da nação, as demais deram de ombros.
Lembro agora de algumas das cantigas que o Coelho Alado entoou:

"Estas medidas põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por precaução." ( sobre medidas de austeridade do Tartaranhão Caçador)

"Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa."
"Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias." (sobre a carga tributária)

"Sabemos hoje que o Governo fez de conta. Disse que ia cortar e não cortou."
"Nas despesas correntes do Estado, há 10% a 15% de despesas que podem ser reduzidas."
"Aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos."
"Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos." ( sobre o custo da máquina administrativa)

"Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos."
"Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado."  (sacrifícios dos ricos)

"Já estamos fartos de um Governo que nunca sabe o que diz e nunca sabe o que assina em nome de Portugal."
"O Governo está-se a refugiar em desculpas para não dizer como é que tenciona concretizar a baixa da TSU com que se comprometeu no memorando." (sobre o acordo com a Troika)

"Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa."
"Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas." (sobre as Finanças)

*"Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português."
"A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos."
"O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento."  (sobre a austeridade)

"Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13.º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate."
"Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?" (sobre mentiras)

O Coelho ganhou asas. Voa alto sobre a nação agora. Faz e desfaz a seu bel-prazer. Atónitos, bico-abertos ficamos nós ante a aberração que por hora nos sobrevoa. "
 
Sabiah Laranjeira
 
 
 
 
 
 
 
Parte 2
 
"Ainda dotado das asas, vestido de líder supremo, o Coelho subiu à árvore mais alta da República do Passaral e proferiu cântico magnânimo, daqueles que arrebata o mais cético dos passarinhos.
Ouvimos, cheios de orgulho por se ter, agora, um governo que nos moldes dos nossos ideais. Alguém com ímpeto, com destreza para nos elevar de novo ao nível das nações do resto do mundo. Um cântico digno de um pássaro verdadeiro. Chegamos a pensar se o Coelho Alado seria mesmo uma aberração da natureza, ou se seria uma bênção dos deuses. O canto assemelhava-se àquele que ouviu a nação naquele dia de cheiro de cravos.
Vejam se não!?
"Os Portugueses podem confiar neste Governo para quebrar o ciclo vicioso de hesitação e derrapagem em que vivemos nos últimos anos...
Em primeiro lugar, anteciparemos já para este terceiro trimestre medidas estruturais previstas no Programa de Ajustamento e que darão outra dinâmica à concorrência em sectores-chave, que tornarão o Estado menos intrusivo na vida económica dos Portugueses e que abrirão a nossa economia aos estímulos do exterior...
...Em segundo lugar, a estratégia do Governo está comprometida com um controlo rigoroso da despesa pública. Já este ano será posto em prática um ambicioso processo de monitorização, controlo e correcção de desvios orçamentais...
...O Governo não pode deixar de vir em socorro daqueles que mais precisam da proteção do Estado: as crianças e os idosos, as mulheres com filhos a seu cargo, os desempregados que viram cessar o seu subsídio de desemprego e não encontram trabalho, as pessoas com deficiência e todos os que estão a ser atingidos com particular violência pelas nossas agruras...
...Uma economia dinâmica e criadora de emprego promove a mobilidade social, gera mais liberdade, mais segurança...
...Apostaremos na educação e na cultura como uma grande escola de conhecimento, criatividade e rigor, de teste de diferentes ideias animado pela busca permanente do aperfeiçoamento...
Apresentação do Programa de Governo - 30/06/2011

Sentimo-nos orgulhosos. Um êxtase se nos invadiu. Cantos por todo o lado se ouviu: - Agora sim, estamos salvos!
A passarada, por agora, seria feliz para sempre..."
 
Sabiah Laranjeira
 
 
 
 
 
 
 
Parte 3
 
"A passarada da República do Passaral estava certa de que o Coelho Alado seria a tábua de salvação. A nação iria rumar para um caminho de estabilização e, como diz um ditado popular, "tudo voltaria como dantes na casa dos Abrantes".
Eis que se apresenta o Coelho Alado, mas agora já sem as asas, diante das aves de rapina na Assembleia. Um orçamento em que já mostrava para que vinha e, como num paradoxo, começa colocar as asinhas de fora (porém já sem asas). O franzir da testa dos analistas já nos deixava com olhar perplexo.
O discurso imponente e bem delineado não condizia em si mesmo. Falava de racionalização da despesa pública, não por contenção de despesa, mas por redução de serviços a prestar a passarada. Menos saúde, menos educação, menos serviços. E mais redução em deduções e coisas do género. O discurso arrebatador da posse fora destituído por um devastador de esperanças. As promessas de campanha foram por água abaixo. As asas eram de cera e o calor do poder as derreteram. Estávamos nós, os frágeis e débeis pássaros, ante a um predador voraz.
Eis um resumo da  apresentação do Orçamento de Estado para o ano 2012.
"Senhora Presidente da Assembleia da República, senhoras e senhores deputados,...Este orçamento que o Governo aqui propõe é o orçamento da estabilização da economia portuguesa. Com o País a sofrer os efeitos dos desequilíbrios financeiros e económicos que se foram acumulando ao longo de muitos anos, a tarefa mais urgente é a da estabilização. E nessa medida este é o orçamento que prepara a recuperação económica do País. A estabilização é a etapa necessária para o crescimento do produto e do emprego por que todos ansiamos...Por este ser o orçamento que inicia o esforço de racionalização da despesa pública e de reestruturação das Administrações Públicas, é também o instrumento para tornar o Estado mais eficiente e mais cooperante com a actividade económica...Mas é precisamente este orçamento, por ser uma etapa inicial de uma estratégia de abertura e desenvolvimento da sociedade portuguesa, que dará uma razão e um sentido a esses sacrifícios...
...No objectivo de colocar efectivamente os poderes públicos ao serviço das soluções mais eficazes para problemas comuns a todos, neste grande objectivo democrático, temos uma oportunidade semelhante para demonstrar que podemos agir com seriedade e inteligência...
...De resto, os Portugueses não escolheram um Governo de resignação. Escolheram um Governo de acção. Escolheram um Governo de acção reflectida mas decidida. É esse o grande compromisso deste orçamento. É esse o nosso dever.

O Coelho Alado afinal era mesmo uma aberração e, como tal, transforma-se em Coelho Lobo Devorador. Assim começa a saga dos pássaros sujeitos à vontade devastadora da viveiro que tornou-se a República do Passaral. Vigiado por guardiões do poder económico denominados de Troika.
Haverá saída deste estados de coisas?"
 
Sabiah Laranjeira
 
 
 
 
 
 
 

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